Orçamento para 2009


A vida dos números

e os números da vida


A avaliar por esta manchete de hoje do Público, há quem aposte no poder mágico e sugestivo dos números que assim parecem ganhar uma vida própria que, por vezes e por sinal, não coincide com a vida de todos nós.
Esta propaganda dos 2,9% de actualização salarial para a função pública comparados com os 2,5% da inflação oficialmente prevista para 2009 obriga-me a
quatro observações principais e imediatas.
A
primeira é que tudo indica que esta previsão de uma inflação de 2,5% para o próximo ano é mais da esfera do palpite e sobretudo da conveniência do que outra coisa, não se podendo esquecer que ela no ano curso, segundo o próprio governo, se deverá fixar, nos 2,8%. Dito de outra forma, se o governo tivesse resolvido escolher como previsão uma inflação em 2009 de 2,8% lá ia para o galheiro esta espantosa (e alegada) generosidade para com os trabalhadores da função pública.
A
segunda é que tenho as suficientes informações credíveis (e diria mesmo presenciais) para garantir que é absolutamente certo que, em 2009, a taxa de inflação vai continuar a ser determinada por um Índice de Preços no Consumidor (IPC) construído com base num inquérito às despesas e receitas familiares que tem 9-anos-9 de vida
(é de 2000) e que o governo nem sequer tenciona actualizar o IPC com base no novo inquérito realizado em 2006 e tardiamente divulgado este ano.
A
terceira
é que a isto acresce que, conforme o economista José Alberto Lourenço aqui demonstrou, essa não actualização da estrutura do IPC significará pelo menos um desvio para baixo na determinação da taxa de inflação de 0,3% e, por outro lado, é bom lembrar que vai continuar em vigor um IPC onde não entram as subidas de encargos com prestações por empréstimos para compra de casa própria ( o que abrange 800 mil famílias).
A quarta é que, mesmo que nada do que está para trás existisse, um aumento dito «real» de 0,3% significa para um trabalhador da função pública que ganhe, por exemplo, 700 euros um sensacional «aumento» mensal de 2,1 euros, ou seja um valor que qualquer trabalhador da função pública (no fundo, um ingrato como todos os outros, dirá o governo !), mesmo sem precisar de se sentar na mesa da casa de jantar a fazer contas, facilmente concluirá que não cobriria nem um décimo de qualquer aumento do IMI, ou da taxa de saneamento, e muito menos das subidas de honorários nas consultas médicas privadas, sempre pouco ou nada reflectidas na taxa de inflação (a propósito, sem ofensa para os meus a quem muito devo, alguém conhece algum médico privado que actualize os seus honorários na base da inflação oficial ou todos sabemos que as actualização são sempre feitas para números redondinhos ?).
Como se acaba de ver, o que o governo e, reflexamente, esta manchete do Público
anunciam para os trabalhadores da função pública, depois de oito anos de congelamento salarial ou antes de grave perda de poder de compra, é verdadeiramente um ano de admirável alívio e folga financeira que gerações e gerações jamais esquecerão !.



Sobre a grande propaganda do governo e os anunciados aumentos da função pública, Vitor Dias diz tudo o que nós pensamos acerca deste "piscar de olho" aos trabalhadores públicos: estamos fartos de embustes destes!

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